quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Raiva paulistana

Hoje, São Paulo me enoja. Não sei como vivi por tanto tempo aqui. 17 anos. É muito tempo. Se não fosse por família e amigos não voltava, nunca, mesmo. Esses mais de 13 milhões de paulistanos têm orgulho de quê? Da poluição descontrolada que mata, pouco a pouco, a pequena fauna que lhes sobra? De ser a cidade mais rica da América Latina, quando, ao andar por suas ruas, se vê, mendigos e mais mendigos. Jovens com suas vidas destruídas pelo crack, a única maneira de escapar da realidade, de não perceber que se é a ponta mais fraca nessa nossa desigual desigualdade social.

Têm orgulho desse escapismo das classes favorecidas, que se trancam em seus apartamentos e carros blindados, fingindo nada ver, e sentem-se seguros, sentem-se livres? De essa vida impessoal ao extremo, onde se aprende a arte de desviar de tantos corpos, inimportantes, em meio às sempre lotadas e movimentadas ruas? De explorar o pobre, e ao ver um pequeno sorriso em seu rosto, orgulhar-se de viver no país mais feliz do mundo? Têm, têm orgulho de tudo isso. Mas têm porque acham que só isso é vida. Quem dera todos os paulistanos conhcessem a vida em outra cidade...

Afinal "não adianta mesmo ser livre, se tanta gente morre sem ter como comer".


Texto escrito por este paulistano, em um momento de extrema negação de suas origens, ao passar uma tarde de domingo no abandonado centro de sua cidade natal.

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